quarta-feira, 22 de abril de 2009

Lembranças da Alma




MINHAS MEMÓRIAS- LEMBRANÇAS DA ALMA

Era uma vez um tempo em que ter um filho era sinônimo de afeto e carinho. Minha mãe sempre que falava sobre o meu nascimento dizia : “ Deus estava muito inspirado no dia em que você nasceu. A lua cheia fluía uma serenidade no ar iluminando a nossa casa e trazendo para o nosso aconchego mais um rebento de amor”. Esta foi uma das primeiras leituras orais que me marcou.
Como diz Paulo Freire: “ a leitura do mundo precede a leitura da palavra”. Depois passei eu mesma a fazer as leituras de mundo: dos gestos, dos olhares, das falas, do cheiro do jardim de infância, dos prazeres da adolescência e da responsabilidade da maturidade... Estas atribuições de valor à leitura de mundo e dos livros são uma metáfora de valores construtivos para o meu ser.
Lembro-me da minha primeira professora . Ela se chamava Izabel e ao término daquele ano letivo presenteou-me com um livro “ A pequena princesa”. Até então não decodificava as palavras, mas as imagens.... estas estavam carregadas de emoções, sendo assim, um pretexto para eu criar um novo texto.
Ainda no primário, especificamente na 3ª série, adotaram um livro didático no qual continha duas disciplinas: Português e Matemática e os personagens destes textos eram sempre os mesmos, dois gênios: Razur e Cazur. Eles viviam num lugar mágico onde tudo permanecia em harmonia como as árvores, os pássaros, as pedras... Aliás, não havia pedras no meio do caminho. Aquela natureza me envolvia de uma forma que sempre que podia me transportava para aquele lugar cheio de encantamentos e segredos. Acredito que até hoje sonho com um mundo assim... As palavras... as palavras... Que magia!!!
Na adolescência conheci um professor de Literatura: Tomás Maciel. Suas aulas eram um verdadeiro deleite. Apaixonei-me por ambos... as letras continuaram me perseguindo... e logo, logo, encontrava-me na UFPE fazendo o curso de... Letras. No curso enfrentei um grande desafio, mesmo com a minha timidez fui presidente do Diretório Acadêmico onde comecei a compreender a instituição educacional, fora dela mesma e enxergar a sua dimensão política. No 4º período já comecei a lecionar numa escola privada e assim que terminei o curso fiz o concurso para rede pública. Durante vários anos lecionei nas duas redes, porém há dois anos optei apenas pela escola pública.
Tive perdas incomensuráveis que abalou-me emocionalmente e por conseqüência, profissionalmente. Mas... lembrando Cora Coralina :
“ Eu sou aquela mulher
a quem o tempo muito ensinou.
Ensinou a amar a vida
e não desistir da luta,
recomeçar na derrota
renunciar a palavras
e pensamentos negativos.
Acreditar nos valores humanos
e ser otimista.
Creio na força imanente
que vai gerando a família humana,
numa corrente luminosa
de fraternidade universal.
Creio na solidariedade humana,
na superação dos erros
e angústias do presente.
Aprendi que mais vale lutar
do que recolher tudo fácil.
Antes acreditar do que duvidar".
E hoje, estou aqui!!! Gritando, lutando, sorrindo, cantando, amando, sofrendo, chorando... mas... vivendo...
Uma das minhas grandes preocupações é o resgate de alguns valores como: respeito mútuo, solidariedade, diálogo, dignidade da pessoa humana... "é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã”. Às vezes, sinto-me inconstante diante de tantos desafios que temos de enfrentar hoje na educação. Toda semana quando chego à escola 1 ou 2 alunos são presos. Não posso fazer de conta que isto não está acontecendo! O que fazer então? Recife é uma das cidades mais violentas do Brasil. Desde o ano passado participo de um projeto anti-drogas juntamente com alguns professores que também estão preocupados com esta situação, este projeto tem como título:
” Prevenção do uso de drogas e da violência na escola”, este é o nosso objetivo: resgatar estes lares perdidos... Muito antes de ser uma professora sou uma “sentidora” (para citar Clarice Lispector). Trabalhar com projetos exige tempo e dedicação. O objetivo central de um projeto constitui um problema ou uma fonte geradora de problemas, que exige uma atividade para sua resolução, se não, não há sentido. Para nós que estamos envolvidos com esta causa, nos perguntamos: "Quando teremos uma solução?"
Realizamos palestra com o jornalista da Rede Globo Marjones Pinheiro, teatro com a Patrulha Escolar, questionário diagnóstico... por último o professor Romero Aguiar produziu um filme com alguns alunos e professores da instituição que trata do tema e que tem como título: “Uma história que poderia ser a sua”. Foi convidada a Secretaria de Educação do Estado, a nossa GRE, para a pré-estréia que será no dia 28 de Abril de 2009. Para lembrar, participo do filme.
A questão das drogas nas escolas públicas da rede estadual de PE é uma realidade e estão refletidas nas nossas falas e em nossas preocupações.
Agora estou empenhada com o GESTAR II, onde espero que troquemos muitas idéias e tenhamos momentos de prazer e realizações, para debatermos sobre todos estes problemas, porque só assim, o projeto terá sentido, afinal, assim como a língua e a linguagem serão os nossos principais instrumentos de trabalho e prazer àquela que está em permanente mudança, será a hora de aproveitarmos os momentos de estarmos juntos (professores de língua portuguesa) para fazermos as nossas mudanças também. É o momento de construirmos novos objetivos que estejam atrelados a nossa realidade.
Não desacredito da educação como o maior meio de construir um país melhor, com menos violência e com mais dignidade pelo ser humano.

Um comentário:

  1. Luiz Carlos Nogueira9 de julho de 2014 às 09:08

    Também fui amiguinho de Cazur e Razur na minha infância. Viajávamos a lugares mágicos onde só as crianças conseguem ir. Tenho ainda muitas saudades da minha professora, Dona Mirna, já falecida, que ia conosco em nossas viagens incríveis. Que Deus a tenha junto dEle.

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