sexta-feira, 22 de maio de 2009

O PASSARINHO ENGAIOLADO



Dentro de uma linda gaiola vivia um passarinho. De sua vida o mínimo que se poderia dizer era que era segura e tranqüila, como seguras e tranqüilas são as vidas das pessoas bem casadas e dos funcionários públicos.
Era monótona, é verdade. Mas a monotonia é o preço que se paga pela segurança. Não há muito o que fazer dentro dos limites de uma gaiola, seja ela feita com arames de ferro ou de deveres. Os sonhos aparecem, mas logo morrem, por não haver espaço para baterem suas asas. Só fica um grande buraco na alma, que cada um enche como pode. Assim, restava ao passarinho ficar pulando de um poleiro para outro, comer, beber, dormir e cantar. O seu canto era o aluguel que pagava ao seu dono pelo gozo da segurança da gaiola.
Bem, se lembrava do dia em que, enganado pelo alpiste, entrou no alçapão. Alçapões são assim; têm sempre uma coisa apetitosa dentro. Do alçapão para a gaiola o caminho foi curto, através da Ponte dos Suspiros.
Há aquele famoso poema do Guerra Junqueiro, sobre o melro, o pássaro das risadas de cristal. O velho cura, rancoroso, encontrara seu ninho e prendera os seus filhotes na gaiola. A mãe, desesperada com o destino dos filhos, e incapaz de abrir a portinha de ferro, lhes traz no bico um galho de veneno. Meus filhos a existência é boa só quando é livre. A liberdade é a lei. Prende-se a asa, mas a alma voa...Ó filhos, voemos pelo azul! ....Comei!
Do seu pequeno espaço ele olhava os outros passarinhos. Os bem-te-vis, atrás dos bichinhos; os sanhaços, entrando mamões adentro; os beija-flores, com seu mágico bater das asas; os urubus, nos seus voos tranqüilos na fundura do céu; as rolinhas, arrulhando, fazendo amor; as pombas, voando como flechas. Ah!Os prudentes conselhos maternos não o tranqüilizavam. Ele queria ser como os outros pássaros, livres...Ah! Se aquela maldita porta se abrisse.
Pois não é que, para surpresa sua, um dia o seu dono a esqueceu aberta? Ele poderia agora realizar todos os seus sonhos. Estava livre, livre, livre!
Saiu. Voou para o galho mais próximo. Olhou para baixo. Puxa! Como era alto. Sentiu um pouco de tontura. Estava acostumado com o chão da gaiola, bem pertinho. Teve medo de cair. Agachou-se no galho, para ter mais firmeza. Viu uma outra árvore mais distante. Teve vontade de ir até lá. Perguntou-se se suas asas agüentariam. Elas não estavam acostumadas. O melhor seria não abusar, logo no primeiro dia. Agarrou-se mais firmemente ainda. Neste momento um insetinho passou voando bem na frente do seu bico. Chegara a hora. Esticou o pescoço o mais que pôde, mas o insetinho não era bobo. Sumiu mostrando a língua.
-Ei, você! – era uma passarinha. – Vamos voar juntos até o quintal do vizinho. Há uma linda pimenteira, carregadinhas de pimentas vermelhas. Deliciosas.Apenas é preciso prestar atenção ao gato, que anda por lá....Só o nome gato lhe deu um arrepio. Disse para a passarinha que não gostava de pimentas. A passarinha procurou outro companheiro. Ele preferiu ficar com fome. Chegou o fim da tarde e, com ele, a tristeza do crepúsculo. A noite se aproximava. Onde iria dormir? Lembrou-se do prego amigo, na parede da cozinha, onde a sua gaiola ficava pendurada. Teve saudades dele. Teria de dormir num galho de árvore, sem proteção. Gatos sobem em árvores? Eles enxergam no escuro? E era preciso não esquecer os gambás. E tinha de pensar nos meninos com seus estilingues, no dia seguinte.
Tremeu de medo. Nunca imaginara que a liberdade fosse tão complicada. Somente podem gozar a liberdade aqueles que têm coragem. Ele não tinha. Teve saudades da gaiola. Voltou. Finalmente a porta ainda estava aberta.
Neste momento chegou o dono. Vendo a porta aberta disse:
- Passarinho bobo. Não viu que a porta estava aberta. Deve estar meio cego. Pois passarinho de verdade não fica em gaiola. Gosta mesmo é de voar...
(Rubem Alves. Teologia do cotidiano. São Paulo , Olho d’água, 1994.)

RUBEM ALVES é, entre outras coisas, professor universitário, filósofo, cronista, contador de histórias, ensaísta, teólogo e psicanalista.
Já escreveu mais de 50 livros para adultos e jovens. Seus textos buscam oferecer ao leitor reflexões sobre temas como a educação, a liberdade, o amor e o sentido e a beleza da vida.

Quando acabei de ler este belíssimo conto de Rubem Alves comecei a questionar: "Até que ponto vale a pena uma vida segura e tranquila, sem enfrentar problemas e perigos?"
Acredito que o grande crescimento do ser está justamente em saborear pimentas, estar junto de alguém... Porém ainda hoje existe pessoas que faz questão de estar sempre com um grande "buraco na alma".
Para concluir, a liberdade não é algo dado; ela precisa ser conquistada e preservada por meio de uma luta constante, pois até mesmo para tê-la precisamos romper barreiras e acreditar: no outro, em si e principalmente em Deus.

Beijos no coração♥♥♥♥♥♥♥♥
Myriam



3º ENCONTRO: A POESIA DESVENDANDO O SEGREDO DAS PALAVRAS

Neste encontro o tema central foi o texto literário X texto utilitário.
Assistimos ao documentário “ Vale dos poetas” no qual aborda o Sertão do Pajeu. Segundo o professor José Silva “ a natureza deu de presente a esta região a inspiração dos poetas da escola Trovadoresca de Portugal; já na fala de Valdir Telles,”Hoje, na cantoria de viola são conhecidas quase 80 modalidades no Brasil, começando pela sextilha até as novas modalidades”.
Gente!!! Tudo isto é POESIA!!!!
Discutimos sobre o tema e acho que o nosso grande desafio é fazer com que a poesia esteja constante em nossas almas, pois só assim poderemos transfigurar o nosso mundo.
Lembrei-me do texto “ Vista cansada” de Otto Lara Resende quando diz: “Uma criança vê o que um adulto não vê. Tem olhos atentos e limpos para o espetáculo do mundo. O poeta é capaz de ver pela primeira vez o que, de tão visto ninguém vê. Há pai que nunca viu o próprio filho. Marido que nunca viu a própria mulher, isso existe às pampas. Nossos olhos se gastam dia-a-dia, opacos. É por aí que se instala no coração o monstro da indiferença”.
Pergunto-me como estão os nossos olhos? Será que não estamos deixando de valorizar as pequenas coisas da vida? Será que não estamos dando mais espaço para o monstro da indiferença? Se estamos fazendo isto como educadores, então, como sensibilizarmos os nossos alunos através da arte literária?
É preciso reagir para não perdermos o nosso olhar interior. A rotina automatiza a retina como dizia em uma de suas aulas de Literatura na UFPE o professor Lourival.
Talvez estejamos vivendo hoje uma espécie de cegueira generalizada. Falta-nos, portanto, ler melhor quem nos rodeia, amar mais as pessoas, a vida e a nós mesmos.
Houve neste mesmo dia, logo após o encontro do GESTAR, o lançamento do filme :”Uma história que poderia ser a sua”. A imprensa da Secretaria de Educação compareceu e olhem nós aí ( a diretora Mônica Lucena e eu) dando entrevista. Mônica, assim como a vice diretora Fátima Melo tem dado muito apoio ao GESTAR.
Afinal,como já havia comentado, este filme faz parte de um projeto anti-drogas do qual faço parte.









Os cursistas também foram convidados para o evento. O filme foi um sucesso!!!! Acredito em projetos que fazem a diferença!!! Observem o produtor do filme: este que está no meio partindo o bolo. Parabéns Romero!!!!



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